Beijinho entalado
 



Cronicas

Beijinho entalado

Kátia Muller Dickel


Todo mundo que me conhece sabe que amo beijinho, aquele doce branquinho, com flocos de coco em volta e um cravo bem no meio. Esses dias meu marido comprou uma caixa cheia de beijinhos, só pra mim. Ao comer o primeiro comecei a rir, me lembrei de uma vez, bem no dia dos namorados, há mais de 25 anos quando um vizinho apaixonado, apareceu lá em casa com uma caixa igualzinha aquela. Meu marido ficou curioso, queria saber o motivo de tanta graça. Então, entre uma mordida e outra fui lhe contando.

Cassiano chegou no fim da tarde do dia 12 de junho de 1995 com um embrulho nas mãos, suando. O moço era muito tímido e pelo fato de não sermos namorados, a timidez era em dobro. Minha mãe foi quem o recebeu. Eu estava sentada no sofá vendo “História de amor”, d Manoel Carlos. Cassiano entrou de mansinho e com as duas mãos para trás, disse com a voz apertada:

- Surpresa.

- Oi, Cássio! O que anda fazendo por aqui?

- Vim te trazer um presente.

- Mas não estou de aniversário.

- Eu sei disso, mas fiquei sabendo que tu ama beijinho, então, olha, são para você.

Pulei do sofá louca para devorar os beijinhos. Cassiano tentou dizer algo, mas não deu tempo. Eu já tinha colocado o maior na boca e logo engasguei.

- Socorro, dona Maria! A sua filha está com o beijinho entalado.

- Eu te avisei, Cássio, que a ideia de colocar um anel dentro de um beijinho não iria dar certo!

Eu nem tinha terminado de contar toda a história, meu marido estava rindo comigo e quase se engasgou com um pedaço de beijinho, mas sem anel nenhum.


Kátia Simone Muller Dickel é professora formada em Letras Português/Espanhol pela Unisinos e Mestre em Educação pela UFRGS. Durante sua vida escolar escrevia poesias, crônicas e contos. Em sua juventude compôs poesias gauchescas e músicas sertaneja, mas depois de ter cursado em 2009, um semestre do curso de Formação de Escritores na Unisinos se motivou a investir na.sua escrita. Kátia foi aluna de Fabrício Carpinejar em uma das oficinas de escrita literária. No mesmo ano participou de um Sarau organizado pelo escritor. Desde 2009 escreve crônicas e contos e atialmente é aluna do curso de escrita criativa da Metamorfose. Pretende publicar um livro sobre suas memórias referente à violência contra mulheres e seguir escrevendo sobre esse tema tão pertinente.

 

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